terça-feira, 31 de julho de 2012

Caminhando com a Igreja: A ação divina que purifica

Rezando de manhã, entre os salmos e cânticos, numa recitação de Laudes, um cântico de Ezequiel, deparei-me com um texto muito conhecido, mas que me chamou a atenção sobre uma particularidade: o texto, mesmo inicial, é uma resposta divina de algo que Ele promete fazer. Vou transcrevê-lo em parte: “Haverei de derramar sobre vós uma água pura, e de vossas imundícies sereis purificados. (...) Dar-vos-ei um novo espírito e um novo coração; tirarei do vosso peito esse coração de pedra, no lugar colocarei novo coração de carne”. Palavras muito conhecidas, para mim começaram a ter um novo sentido de ação.
No Brasil esse cântico se tornou mais cantado depois que foi muito bem musicado e é cantado especialmente na Quaresma. O povo, em geral, gosta bastante de cantá-lo.
No entanto, o que me chamou mais a atenção, - o que não tinha acontecido ainda, - foi a afirmação do sagrado hagiógrafo de que a purificação, como muitas outras ações citadas na Bíblia, não foi só um esforço de quen recebeu esse favor, mas foi ação do próprio Deus. Houve uma purificação pessoal de quem rezou pela primeira vez essa oração.
  Um dos elementos que muitas vezes aparecem na Bíblia como purificador é precisamente a água, inclusive depois usada por Jesus para instituir o sacramento do Batismo. Com a força divina, a pureza da água pode servir para tornar pura a imundície ou mesmo o pecado que mancha a criatura arrependida. Igualmente o Senhor promete dar inclusive um coração novo a quem o tem petrificado. Aqui se trata do coração da alma, mais íntimo ao possuidor dele do que o coração corporal.

É aquele coração que influencia a consciência da pessoa para sempre fazer o bem. No entanto, isso não
acontece quando esse mesmo coração até certo ponto se parece com uma pedra. Infelizmente muitas vezes podemos conhecer alguém que tem um coração muito arredio ao amor e que até se gaba de não aceitar um ou mais irmãos, porque circunstâncias da vida endureceram-lhe o coração.
O novo espírito, que Deus promete dar-nos, pode ser também a participação na nossa vida do próprio Espírito Santo, o melhor e maior companheiro que podemos ter para que a nossa vivência seja realmente santa e cresça sempre mais nessa santidade. A Graça já é essa participação, mas podemos tê-la, se quisermos, mais atuante em nossa vida. O Espírito de Deus, se conservado e procurado como a maior ajuda divina que Deus nos oferece e que Jesus Cristo confirmou, pode fazer de fato da nossa vida uma vivência santa e santificadora. Foi o que aconteceu com todos os santos que estão no céu.
O cântico ainda, referindo-se a esse último dom, diz expressamente mais uma ação de Deus: “Haverei de derramar meu Espírito em vós, e farei que caminheis obedecendo a meus santos preceitos e mandamentos, que observeis e guardeis a minha Lei.” Esta reflexão servirá muito bem para uma oração que possamos fazer, rezando a Bíblia, a santa Palavra de Deus. Nada melhor, em nossa espiritualidade, do que sabermos aproveitar os ensinos que se nos apresentam para crescer na oração e fazermos da nossa vida uma contínua união, para a qual o Senhor sempre espera por nós, na eternidade.




Mons. Aderson Neder,
SACERDOTE DIOCESANO E ESCRITOR



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