XVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM
05/08/2012
Nem
só de pão vive o ser humano, mas de tudo que procede da boca do Senhor
(Deuteronômio, 8, 3).
Diante
da provação da fome, no deserto, o povo de Deus tem a tentação de voltar para o
Egito,
lugar da escravidão. As pessoas murmuram contra Moisés e contra Deus, duvidam
da
Providência
divina e manifestam que prefeririam continuar na escravidão, mas ter o que
comer. Ser
escravos
de barriga cheia seria bem melhor do que ser livres, pois, de que serve a
Liberdade se não
se
tem o que comer? E para que ser livres, mas ter que errar pelo deserto na busca
de uma terra
prometida,
tão incerta quanto distante? Esquecem que a escravidão incluía situações de
opressão e
sofrimento,
muito mais dolorosas do que a fome, que esvaziava a vida de sentido. Deus não
fica
indiferente
aos clamores, murmurações e à revolta do povo. Mas Ele não quer que seu povo
volte
para
a escravidão, opressão e sofrimentos do Egito. Por isso providencia-lhe o
alimento necessário: o
maná
e as codornizes. Através deste sinal o povo reconhece que o Senhor é Deus e
está com ele na
caminhada
(Êxodo 16, 12). É Deus mesmo que alimenta seu o povo com o pão que vem do céu e
não
Moisés,
como nos lembra Jesus no Evangelho de hoje (João 6, 32).
O
povo procura Jesus não porque tenha entendido o sentido do pão partilhado, mas
porque
busca
apenas o pão material, imediato, que satisfaz a fome corporal. Jesus é e
oferece um outro
alimento,
um pão espiritual, que sacia toda a fome e toda sede, muito além da dimensão
material. O
povo
não entendeu o sinal dos pães, realizado por Jesus (evangelho do domingo
passado), e exige,
para
crer nele, ver um sinal mais convincente. Não percebem que estão diante do
maior sinal de
Deus,
que é o próprio Filho amado do Pai, Palavra feita carne, pão vivo descido do
céu e dado para a
vida
do mundo. Pão da vida, que sacia toda fome e toda sede. Pão e Palavra que se
misturam no
alimento
espiritual que sacia de plenitude o coração humano sempre mendicante de
sentido. O
capítulo
sexto de São João vai nos introduzindo progressivamente na compreensão do
significado
mais
profundo da Eucaristia. Nutridos por este alimento espiritual nos despojaremos
da velha
criatura,
que se corrompe sob o efeito das paixões enganadoras, e nos renovaremos em
nosso
espírito
e mentalidade, revestindo-nos da nova criatura, criada à imagem de Deus, em
verdadeira
justiça
e santidade (segunda leitura). O Pão e a Palavra nos fortalecerão em nossa
caminhada de
conversão
e transformação de toda realidade ao nosso redor. Eles contêm a Verdade que nos
tornará
livres (João 8, 32).
Em
tempos de materialismo extremo, em que o aspecto econômico e mercadológico
domina
a
nossa vida em todas as suas dimensões, tornando-se um novo tipo de servidão,
podemos nos
perguntar
até que ponto também nós somos tentados a preferir as escravidões modernas à
liberdade
desafiante que Deus nos propõe. O Pão da Palavra e da Eucaristia podem se
tornar
incompreensíveis
e irrelevantes se não tivermos a capacidade de um olhar espiritual. Muitas
Igrejas e
muitos
pretensos cristãos hoje caminham na direção oposta ao Evangelho de Jesus.
Muitos cristãos
vivem
como pagãos, não só porque não vão mais à Igreja, mas porque se deixaram
penetrar
totalmente
pelo espírito materialista, que torna clara a visão da realidade para os
interesses
materiais
imediatos, mas totalmente opaca para os bens espirituais, que são aqueles que
não
apodrecem,
não se corrompem, nem se perdem. Se era duro e difícil escutar e compreender o
discurso
sobre o Pão da Vida nos dias de Jesus, quão difícil será aceitar e entender a
mesma
mensagem
em nossos tempos! Afinal, o que procuramos, o que enche nossa vida de sentido
ou o
que
a esvazia e a torna uma ilusão enganosa? Quem e o que pode dar sentido à nossa
existência?
Quem
pode satisfazer a nossa fome de sentido e aquietar os nossos corações? É
verdade que
precisamos
nos preocupar com o pão de cada dia e fazer a nossa parte para conquistá-lo.
Mas é
preciso
acreditar na Providência divina, sabendo que Deus nunca nos abandonará no
caminho. Como
o
salmista hoje, confiemo-nos ao Senhor com a certeza de que Ele nos dará o pão
do céu, que sacia
para
sempre todas as nossas fomes e nossas sedes e anseios.
Frei Edilson Rocha, OFM
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