quarta-feira, 1 de agosto de 2012


XVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM

05/08/2012



Nem só de pão vive o ser humano, mas de tudo que procede da boca do Senhor (Deuteronômio, 8, 3).

Diante da provação da fome, no deserto, o povo de Deus tem a tentação de voltar para o

Egito, lugar da escravidão. As pessoas murmuram contra Moisés e contra Deus, duvidam da

Providência divina e manifestam que prefeririam continuar na escravidão, mas ter o que comer. Ser

escravos de barriga cheia seria bem melhor do que ser livres, pois, de que serve a Liberdade se não

se tem o que comer? E para que ser livres, mas ter que errar pelo deserto na busca de uma terra

prometida, tão incerta quanto distante? Esquecem que a escravidão incluía situações de opressão e

sofrimento, muito mais dolorosas do que a fome, que esvaziava a vida de sentido. Deus não fica

indiferente aos clamores, murmurações e à revolta do povo. Mas Ele não quer que seu povo volte

para a escravidão, opressão e sofrimentos do Egito. Por isso providencia-lhe o alimento necessário: o

maná e as codornizes. Através deste sinal o povo reconhece que o Senhor é Deus e está com ele na

caminhada (Êxodo 16, 12). É Deus mesmo que alimenta seu o povo com o pão que vem do céu e não

Moisés, como nos lembra Jesus no Evangelho de hoje (João 6, 32).

O povo procura Jesus não porque tenha entendido o sentido do pão partilhado, mas porque

busca apenas o pão material, imediato, que satisfaz a fome corporal. Jesus é e oferece um outro

alimento, um pão espiritual, que sacia toda a fome e toda sede, muito além da dimensão material. O

povo não entendeu o sinal dos pães, realizado por Jesus (evangelho do domingo passado), e exige,

para crer nele, ver um sinal mais convincente. Não percebem que estão diante do maior sinal de

Deus, que é o próprio Filho amado do Pai, Palavra feita carne, pão vivo descido do céu e dado para a

vida do mundo. Pão da vida, que sacia toda fome e toda sede. Pão e Palavra que se misturam no

alimento espiritual que sacia de plenitude o coração humano sempre mendicante de sentido. O

capítulo sexto de São João vai nos introduzindo progressivamente na compreensão do significado

mais profundo da Eucaristia. Nutridos por este alimento espiritual nos despojaremos da velha

criatura, que se corrompe sob o efeito das paixões enganadoras, e nos renovaremos em nosso

espírito e mentalidade, revestindo-nos da nova criatura, criada à imagem de Deus, em verdadeira

justiça e santidade (segunda leitura). O Pão e a Palavra nos fortalecerão em nossa caminhada de

conversão e transformação de toda realidade ao nosso redor. Eles contêm a Verdade que nos

tornará livres (João 8, 32).

Em tempos de materialismo extremo, em que o aspecto econômico e mercadológico domina

a nossa vida em todas as suas dimensões, tornando-se um novo tipo de servidão, podemos nos

perguntar até que ponto também nós somos tentados a preferir as escravidões modernas à

liberdade desafiante que Deus nos propõe. O Pão da Palavra e da Eucaristia podem se tornar

incompreensíveis e irrelevantes se não tivermos a capacidade de um olhar espiritual. Muitas Igrejas e

muitos pretensos cristãos hoje caminham na direção oposta ao Evangelho de Jesus. Muitos cristãos

vivem como pagãos, não só porque não vão mais à Igreja, mas porque se deixaram penetrar

totalmente pelo espírito materialista, que torna clara a visão da realidade para os interesses

materiais imediatos, mas totalmente opaca para os bens espirituais, que são aqueles que não

apodrecem, não se corrompem, nem se perdem. Se era duro e difícil escutar e compreender o

discurso sobre o Pão da Vida nos dias de Jesus, quão difícil será aceitar e entender a mesma

mensagem em nossos tempos! Afinal, o que procuramos, o que enche nossa vida de sentido ou o

que a esvazia e a torna uma ilusão enganosa? Quem e o que pode dar sentido à nossa existência?

Quem pode satisfazer a nossa fome de sentido e aquietar os nossos corações? É verdade que

precisamos nos preocupar com o pão de cada dia e fazer a nossa parte para conquistá-lo. Mas é

preciso acreditar na Providência divina, sabendo que Deus nunca nos abandonará no caminho. Como

o salmista hoje, confiemo-nos ao Senhor com a certeza de que Ele nos dará o pão do céu, que sacia

para sempre todas as nossas fomes e nossas sedes e anseios.





Frei Edilson Rocha, OFM

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