quarta-feira, 25 de julho de 2012




XVII DOMINGO DO TEMPO COMUM

29/07/2012



O pouco com Deus é muito; o muito sem Deus é nada.

            O ditado popular acima tem muito a ver com o tema central da reflexão bíblica deste domingo.  Vinte pães de cevada partilhados dão para alimentar cem pessoas e ainda sobra (primeira leitura).  A partir da doação de cinco pães de cevada e dois peixes, Jesus alimenta uma multidão de milhares de pessoas (Evangelho).  A lição é clara: o pouco partilhado com generosidade e fé se multiplica, tornando-se suficiente para muitos e ainda sobra.  A generosidade faz acontecer o milagre da solidariedade e da partilha. Nos dois casos relatados nas leituras bíblicas, para acontecer o sinal foi preciso que o homem doasse os vinte pães para o profeta Eliseu e o garoto do Evangelho aceitasse doar o seu lanche para Jesus iniciar a partilha para a multidão faminta.  

            Jesus enfrentou a tentação, desde o início de sua missão, de resolver a situação da fome com um passe de mágica: transformar pedras em pão. Ele não cedeu à tentação, afirmando que não é só de pão que vive o ser humano, mas de toda Palavra que sai da boca de Deus (Mateus 4,3-4). Considero importante lembrar esta passagem para entendermos bem o sentido do sinal dos pães, conforme o relato de João, mas também dos outros evangelhos, pois este é um dos poucos milagres de Jesus que foi transmitido por todos os Evangelhos. Este fato também atesta a importância deste sinal e seu sentido para todas as tradições cristãs dos primeiros tempos. 

            Certamente, a importância do relato tem a ver com a ceia Eucarística, pois Jesus faz aqueles gestos rituais que caracterizam a Ceia: tomou os pães, deu graças e distribuiu-os. Fez o mesmo com os peixes (João 6, 11). O Capítulo sexto de João é quase todo dedicado a um discurso sobre o Pão da Vida, o que reforça ainda mais esta afirmação do caráter eucarístico da multiplicação ou sinal dos pães. Além disso, os outros relatos do mesmo fato nos evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas trazem também o gesto de tomar os pães, abençoá-los e distribuí-los.  São gestos eucarísticos.

            Embora seja um dos relatos mais conhecidos dos evangelhos, vale ressaltar um elemento que talvez possa parecer estranho: embora nós sempre nos refiramos ao milagre da “multiplicação dos pães”, em nenhum dos quatro relatos usa-se o verbo “multiplicar”! Usam-se outros termos nos quatro evangelhos: “tomar”, “abençoar”, “distribuir”,  partilhar! Não é o caso de discutir aqui o que foi que Jesus fez! Nem teríamos condições de descobrir. Certamente não foi uma mágica. O enfoque é outro. Se os evangelistas tivessem colocado a ênfase sobre o “multiplicar”, ou seja, sobre o estritamente milagroso ou mágico, então a história não teria grandes consequências para nós hoje, pois nós não temos o poder de fazer mágicas milagrosas! Mas, colocando a ênfase sobre o “partilhar” e o “distribuir”, a Palavra de Deus nos desafia hoje! Pois, partilhar e distribuir estão ao nosso alcance!

            Se vivermos a nossa vocação cristã, caminhando como irmãos, com humildade e mansidão, apoiando-nos reciprocamente no amor; se buscarmos a unidade e a paz, construindo comunhão, vivermos animados na mesma fé, experimentaremos a ação de Deus em nós, permanecendo conosco e agindo por meio de nós.  É o que nos assegura a exortação do Apóstolo Paulo, na segunda leitura, levando-nos a pensar também no tema da partilha e da Eucaristia.

            Podemos concluir nossa reflexão, provocados pela Palavra de Deus, nos perguntando sobre as consequências da nossa participação da Eucaristia em nossas vidas.  Quais os frutos que a Eucaristia produz em mim?  O que tenho para partilhar com Cristo e com os irmãos?  O pouco que tenho pode se transformar em muito quando eu o colocar a serviço da comunidade.

Frei Edilson Rocha

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