XVII DOMINGO DO TEMPO COMUM
29/07/2012
O pouco com Deus é muito; o
muito sem Deus é nada.
O ditado popular acima tem muito a ver com o tema central
da reflexão bíblica deste domingo. Vinte
pães de cevada partilhados dão para alimentar cem pessoas e ainda sobra
(primeira leitura). A partir da doação
de cinco pães de cevada e dois peixes, Jesus alimenta uma multidão de milhares
de pessoas (Evangelho). A lição é clara:
o pouco partilhado com generosidade e fé se multiplica, tornando-se suficiente
para muitos e ainda sobra. A
generosidade faz acontecer o milagre da solidariedade e da partilha. Nos dois
casos relatados nas leituras bíblicas, para acontecer o sinal foi preciso que o
homem doasse os vinte pães para o profeta Eliseu e o garoto do Evangelho
aceitasse doar o seu lanche para Jesus iniciar a partilha para a multidão
faminta.
Jesus enfrentou a tentação, desde o início de sua missão,
de resolver a situação da fome com um passe de mágica: transformar pedras em
pão. Ele não cedeu à tentação, afirmando que não é só de pão que vive o ser
humano, mas de toda Palavra que sai da boca de Deus (Mateus 4,3-4). Considero
importante lembrar esta passagem para entendermos bem o sentido do sinal dos
pães, conforme o relato de João, mas também dos outros evangelhos, pois este é
um dos poucos milagres de Jesus que foi transmitido por todos os Evangelhos.
Este fato também atesta a importância deste sinal e seu sentido para todas as
tradições cristãs dos primeiros tempos.
Certamente, a importância do relato tem a ver com a ceia
Eucarística, pois Jesus faz aqueles gestos rituais que caracterizam a Ceia: tomou
os pães, deu graças e distribuiu-os. Fez o mesmo com os peixes (João 6, 11). O
Capítulo sexto de João é quase todo dedicado a um discurso sobre o Pão da Vida,
o que reforça ainda mais esta afirmação do caráter eucarístico da multiplicação
ou sinal dos pães. Além disso, os outros relatos do mesmo fato nos evangelhos
de Mateus, Marcos e Lucas trazem também o gesto de tomar os pães, abençoá-los e
distribuí-los. São gestos eucarísticos.
Embora seja um dos relatos mais conhecidos dos
evangelhos, vale ressaltar um elemento que talvez possa parecer estranho:
embora nós sempre nos refiramos ao milagre da “multiplicação dos pães”, em
nenhum dos quatro relatos usa-se o verbo “multiplicar”! Usam-se outros termos
nos quatro evangelhos: “tomar”, “abençoar”, “distribuir”, partilhar! Não é o caso de discutir aqui o
que foi que Jesus fez! Nem teríamos condições de descobrir. Certamente não foi
uma mágica. O enfoque é outro. Se os evangelistas tivessem colocado a ênfase
sobre o “multiplicar”, ou seja, sobre o estritamente milagroso ou mágico, então
a história não teria grandes consequências para nós hoje, pois nós não temos o
poder de fazer mágicas milagrosas! Mas, colocando a ênfase sobre o “partilhar”
e o “distribuir”, a Palavra de Deus nos desafia hoje! Pois, partilhar e
distribuir estão ao nosso alcance!
Se vivermos a nossa vocação cristã, caminhando como
irmãos, com humildade e mansidão, apoiando-nos reciprocamente no amor; se
buscarmos a unidade e a paz, construindo comunhão, vivermos animados na mesma
fé, experimentaremos a ação de Deus em nós, permanecendo conosco e agindo por
meio de nós. É o que nos assegura a
exortação do Apóstolo Paulo, na segunda leitura, levando-nos a pensar também no
tema da partilha e da Eucaristia.
Podemos concluir nossa reflexão, provocados pela Palavra
de Deus, nos perguntando sobre as consequências da nossa participação da
Eucaristia em nossas vidas. Quais os
frutos que a Eucaristia produz em mim? O
que tenho para partilhar com Cristo e com os irmãos? O pouco que tenho pode se transformar em
muito quando eu o colocar a serviço da comunidade.
Frei Edilson Rocha
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