04.2013. CARIDADE
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará
Realizou-se
em Roma, de 17 a 19 de janeiro, a Assembleia Geral Ordinária do Pontifício
Conselho "Cor Unum", com leigos e leigas, sacerdotes e bispos do
mundo inteiro, convocados para refletirem sobre um tema de capital importância
para a Igreja e a humanidade,
"Caridade, Antropologia cristã, Nova Evangelização e Nova Ética
Global". O Conselho "Cor Unum" é um dos organismos de serviço
que ajudam o Santo Padre o Papa Bento XVI a realizar sua tarefa apostólica. A
este Conselho cabe a responsabilidade de estimular e coordenar a prática da
caridade, valorizando as diversas entidades que se propõem a praticar a
caridade, especialmente no serviço aos mais pobres e sofredores.
A
Assembleia culminou com a Santa Missa concelebrada na "Capela do
Coro", da Basílica de São Pedro, com Homilia do Cardeal Roberto Sarah,
presidente do Conselho Cor Unum, seguida de uma acolhedora audiência concedida
pelo Papa Bento XVI, na qual cada um dos participantes foi recebido e abençoado
pessoalmente por Ele. Ao aproximar-me e apresentar-me como Arcebispo de Belém,
logo o Papa reconheceu tratar-se de um Arcebispo da Amazônia, fui mais uma vez
surpreendido pela simpatia e profundidade de olhar que sempre edifica, no
contato com o Sucessor de Pedro, sinal de unidade para toda a Igreja, portador
do imenso e decisivo carisma de confirmar os irmãos (Cf. Lc 22,32). Em todos os
meus encontros com o Papa, suas palavras foram breves, incisivas e carregadas
de sabedoria. Uma frase é suficiente para suscitar muitas reflexões e abrir
estradas.
Desta
feita, o Papa me disse que na Amazônia "precisamos muito da
caridade". Passaram imediatamente pela minha mente e pelo coração todas as
ações de caridade em nossa Igreja de Belém. Dei graças a Deus pelas entidades e
pessoas, começando pela Cáritas Arquidiocesana de Belém, a quem cabe ser o
coração do Carisma da Caridade, as Obras Sociais da Arquidiocese e tantas ações
e organizações existentes. Manifesto publicamente o reconhecimento e a gratidão
por todos que foram tocados pelo chamado a tornar concreto o serviço ao
próximo, movidos pelo dom maior da caridade (Cf. 1 Cor 12, 31).
De fato,
"a natureza íntima da Igreja exprime-se num tríplice dever: anúncio da
Palavra de Deus, celebração dos Sacramentos e serviço da caridade. São deveres
que se reclamam mutuamente, não podendo um ser separado dos outros. Portanto,
também o serviço da caridade é uma dimensão constitutiva da missão da Igreja e
expressão irrenunciável da sua própria essência; todos os fiéis têm o direito e
o dever de se empenharem pessoalmente por viver o mandamento novo que Cristo
nos deixou (cf. Jo 15, 12), oferecendo às pessoas não só ajuda material, mas
também refrigério e cuidado para a alma (cf. Carta enc. Deus caritas est,- 28).
A Igreja é chamada à prática do serviço da caridade também a nível comunitário,
desde as pequenas comunidades locais passando pelas Igrejas particulares até à
Igreja universal; por isso, há necessidade também uma organização articulada
também através de expressões institucionais (Cf. Encíclica Deus caritas est,
20-25; Cf. Proêmio do Motu Próprio "Intima Ecclesiae natura"). Cada
instância de vida eclesial tem o dever de "organizar a caridade",
segundo suas possibilidades e no âmbito de sua presença, e considero
fundamental que todos os cristãos católicos tenham seu modo de viver a
caridade. Não são poucas as pessoas que a praticam de modo silencioso e
escondido, cujas obras são por Deus conhecidas e as acompanharão quando se apresentarem
diante do Senhor. Oxalá todos nós estejamos assim preparados para o encontro
com Ele.
Mas o que
distingue a caridade de tantos e beneméritos serviços filantrópicos existentes
na sociedade? O Senhor Jesus contrapõe o serviço aos outros feito ser elogiado
ao amor sincero, no qual a mão esquerda não sabe o que faz a direita (Cf. Mt
6,3). O Apóstolo São Paulo fala da caridade como o dom maior, que vai além do
distribuir os bens aos pobres (Cf. 1 Cor 13, 1-13). Para ele, o amor de Deus
foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado (Rm 5,5). Ela nasce de Deus! Há de ser reconhecida
como um dom e nós a reconhecemos, ao lado da Fé e da Esperança, como virtude
cuja fonte é o próprio Deus, entregue de presente no Batismo e destinada a
frutificar na vida de cada cristão. Se no Céu está sua origem, realiza-se na
terra como "o mandamento novo" dado por Jesus, o amor mútuo, com o
qual estamos prontos a dar a vida uns pelos outros. É a mesma torrente de amor
vinda da Santíssima Trindade que se espalha sobre a terra, destinada a permear
toda a vida humana, não só a assistência aos necessitados ou sua promoção a
níveis correspondentes à dignidade com que foram criados por Deus ou mesmo sua
libertação das amarras que oprimem grandes camadas da população.
Contemplando tal torrente, o grande São Bernardo afirmava
extasiado: "Amo porque amo, amo para amar. O amor basta-se a si mesmo, em
si e por sua causa encontra satisfação. É seu mérito, seu próprio prêmio. Além
de si mesmo, o amor não exige motivo nem fruto. Seu fruto é o próprio ato de
amar. Amo porque amo, amo para amar. Grande coisa é o amor, contanto que vá a
seu princípio, volte à sua origem, mergulhe em sua fonte, sempre beba donde
corre sem cessar. De todos os movimentos da alma, sentidos e afeições, o amor é
o único com que pode a criatura, embora não condignamente, responder ao Criador
e, por sua vez, dar-lhe outro tanto. Pois quando Deus ama não quer outra coisa
senão ser amado, já que ama para ser amado; porque bem sabe que serão felizes
pelo amor aqueles que o amarem" (Dos Sermões sobre o Cântico dos Cânticos,
de São Bernardo, abade - Sermo 83,4-6, Opera omnia).
A prática da caridade é gratuita. Não faz o bem para
qualquer tipo de compensação pessoal, mas ama para amar e porque fomos feitos
para amar. Toma sempre a iniciativa,
ama a todos, sem excluir a ninguém e reconhece a presença do próprio Cristo em
cada pessoa (Cf. Mt 25,34-40). Traz consigo a exigência do perdão, nada faz de
inconveniente, tudo perdoa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. Ela jamais
acabará! (Cf. 1 Cor 13,1-13)
Por que Belém, o Pará e toda a Amazônia precisam da
caridade? Primeiro, porque todos necessitam e sem ela não podemos aproximar-nos
de Deus. Mas muitos serão os motivos pelos quais a palavra do Papa Bento XVI a
nosso respeito deve ser acolhida como profecia! Olhemos ao nosso redor para
examinar corajosa e criativamente os desafios presentes na sociedade,
identificando as situações em que se encontram as pessoas mais sofridas. E são
tantas as nossas riquezas humanas e da natureza que podemos provocar-nos
positivamente para partilhar mais e melhor, superando as desigualdades
existentes. Como não enxergar a violência que se espalha, a quantidade de
pessoas vivendo em nossas ruas, as crianças abandonadas, a terrível chaga das
drogas? Sejam quais forem as muitas respostas que desejamos dar à pergunta, os
homens e as mulheres de fé se deixem sensibilizar pelo amor do próprio Deus,
cuja unção nos fará edificar um mundo melhor e contagiará as pessoas de boa vontade,
que se descobrirão amadas por Deus. Mãos à obra!
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